quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Práticas docentes de fomento à leitura: uma abordagem inicial

A educação é um processo lento, como o desenvolvimento de uma flor, na qual a fragrância se torna mais profunda e mais perceptível no florescimento silencioso, pétala por pétala. Esse desenvolvimento significa disciplina e inteligência, em vez de ser apenas resultado da ação de uma pessoa dedicada à tarefa de ensinar e preparar os exames de maneira meramente repetitiva. O exemplo, e não o preceito, é a melhor ajuda para o ensino.
Sathia Sai Baba


Com base na constante insatisfação por parte dos professores – em especial os da rede pública do ensino – não só de língua portuguesa, como de outras áreas disciplinares, no que diz respeito ao nível de interpretação de textos por parte dos alunos, ao desinteresse pela leitura e às dificuldades de escrita destes, é que surgiu a necessidade e o interesse em abordar o assunto “práticas de fomento à leitura”.
A escolha do referido tema surgiu ainda, da observação das aulas de leitura em escolas estaduais, que se mostram, em sua maioria, ineficazes por conta da falta de envolvimento dos alunos com os textos que lhes são apresentados; com as atividades, em geral, descontextualizadas, gerando outros agravantes: a dispersão e a abertura para a indisciplina em sala de aula, uma vez que pelo fato de não haver “lição” na lousa, durante a leitura, essas aulas podem ser confundidas pelos alunos como espaço para conversas paralelas e concepções de não importância para a formação escolar.
Muitas são as causas de tal afastamento com a prática da leitura. Citando Braga e Silvestre:


[...] faltam-lhes interesse, vontade, desejo, prazer. Falta-lhe maturidade para compreender a importância da leitura e da escrita. Falta-lhe intertextualidade – o diálogo com outros textos. Falta-lhe o silêncio, a solidão necessária para mergulhar no enredado mundo das palavras. E mesmo que tivesse tudo isso, ainda faltaria o mais importante: o saber ler, o saber escrever. Assim, diante da primeira dificuldade, desiste. E continuará desistindo sempre se continuarmos apenas cobrando o que não foi aprendido. Se continuarmos assistindo ao seu fracasso e atribuindo a ele a culpa de não ser um leitor eficiente (BRAGA. Regina M.; SILVESTRE. Maria de F. B., Construindo o leitor competente. São Paulo: Peirópolis, 2002, p. 15-16).


Partindo-se desta realidade, questiona-se:

• Em que medida o professor de Leitura e Produção de Textos pode contribuir para que os aprendentes sintam-se interessados na prática deste hábito, tendo em vista que, muitas vezes, não encontram em seu convívio social pessoas para compartilharem de suas leituras ou mesmo se interessarem pelo o que estão lendo?
• Quais são os embasamentos teóricos necessários ao professor da referida disciplina para uma prática significativa/eficaz que estimule os alunos a lerem?

Diante de tais questionamentos, revela-se indispensável o papel do professor como mediador para superação de tais deficiências. Mas qual o modo de intervenção do professor na prática?
Faz-se necessária a abordagem de técnicas motivacionais, exemplos de aulas interativas, sequenciação didática, por meio de uma variedade de textos que estimulem/agucem a curiosidade dos alunos, para que a leitura faça parte de suas vidas, para que a leitura os “invada” trazendo novas informações, permitindo que sintam desejo de falar o que pensam acerca do texto, ouçam outras opiniões, façam considerações sobre o que sentiram ao realizar determinada leitura, exponham opiniões a favor e também contra as apresentadas pelo autor, tendo em vista que no processo de leitura estabelece-se, segundo Kleiman, “uma relação entre leitor e autor que tem sido definida como de responsabilidade mútua, pois ambos têm a zelar para que os pontos de contato sejam mantidos, apesar das divergências possíveis em opiniões e objetivos” (KLEIMAN, A. Texto e leitor. Campinas: Pontes, 2009, p. 65).

Apresentarei em postagens seguintes possíveis caminhos que o professor de Leitura pode buscar para despertar nos alunos o gosto por ler, na perspectiva de se chegar ao nível de estudo do texto em que se possa evidenciar aos estudantes a existência da intertextualidade, as possibilidades de relação com outras “leituras” do cotidiano, à busca do conhecimento prévio para melhor aproveitamento do que se lê.
É importante considerar que o professor se depara com outras problemáticas em sala de aula: a desmotivação e o desinteresse dos alunos. Como intervir de modo positivo nesse processo de estímulo à leitura, a fim de formar leitores competentes e eficientes?
Retomando Braga e Silvestre, é muito simples compreender a dificuldade desta aprendizagem quando se compara a qualquer outro saber:

Imagine alguém que não tenha aprendido, por uma série de razões, a jogar tênis. E, de repente, vê-se com a bola de raquete na mão, e precisa jogar. Certamente não passará da primeira bola e o resultado será um grande vexame. E toda vez que se referir a esse esporte dirá que não gosta dele, que tem horror a ele e que não sente prazer em praticá-lo (BRAGA. Regina M.; SILVESTRE. Maria de F. B., Construindo o leitor competente. São Paulo: Peirópolis, 2002, p. 15-16).

Analogicamente, as autoras deixam claro que para não se chegar a resultados contrários ao que se espera com relação ao incentivo à leitura, o professor deve sair da sua atitude passiva ou centralizadora e procurar estabelecer uma relação dialógica com o aluno, colocá-lo como sujeito e instrumentalizá-lo para o saber fazer (BRAGA. Regina M.; SILVESTRE. Maria de F. B., Construindo o leitor competente. São Paulo: Peirópolis, 2002, p. 15-16).

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